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Oscar 2020: 1917

Favorito ao Oscar, filme de Sam Mendes impressiona pela técnica e nada mais.
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É bem provável que “1917” ganhe o Oscar de melhor filme. Não seria a primeira obra do diretor inglês Sam Mendes a levar a estatueta, que também venceu em 2000 pelo horroroso “Beleza Americana”, sua estreia no cinema. Feito em homenagem ao avô de Mendes, que lutou na Primeira Guerra Mundial, “1917” não é ruim como o drama protagonizado por Kevin Spacey, mas depende de uma artimanha técnica que não favorece a narrativa: a ilusão constante de um plano-sequência.

Mendes não é o primeiro a experimentar com a sensação de um filme contínuo. Em 1948, Alfred Hitchcock filmou “Festim Diabólico” como se fosse uma peça ininterrupta, disfarçando os seus cortes, por exemplo, com aproximação da câmera nas costas de algum personagem (a tela escura ajuda o editor a esconder o corte). A diferença, é claro, é que o suspense de Hitchcock se passa em um único ambiente, enquanto “1917” caminha por trincheiras e campos diversos, com tiros e explosões, criando um pesadelo logístico para a produção.

Um plano-sequência requer muito planejamento e ensaio, especialmente quando envolve movimento. Na linguagem cinematográfica, ele serve para criar tensão, já que não há uma ruptura temporal. Há vários exemplos do domínio da técnica, como o início de “A Marca da Maldade” (1958) ou a cena do clube Copacabana em “Os Bons Companheiros” (1990). Em ambos os filmes, no entanto, o plano-sequência é utilizado apenas em cenas específicas, quando o recurso faz sentido para a história.

No caso de “1917”, o plano-sequência mais parece um artifício, um truque espertinho para impressionar o espectador com o esforço de cada cena e não com o conteúdo dramático em si. A guerra é apenas um pano de fundo para a exibição dos talentos do diretor e de toda a sua equipe. É como um desenho hiperrealista. A técnica impressiona, mas o trabalho não significa nada como expressão artística. Rupturas temporais aqui e ali teriam ajudado.

Com participação de grandes nomes como Colin Firth e Benedict Cumberbatch, até o elenco parece distrair. No cinema, alguns espectadores vibraram ao reconhecer um ator de “Game of Thrones” justamente em um dos momentos mais tristes da trama. Para uma história tão emocionante, muitos foram os bocejos e as conversas paralelas. “1917” é mesmo uma proeza técnica, mas uma obra não é melhor só porque foi mais difícil. Deve levar o Oscar, mas será esquecido em questão de dois anos.

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