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Com direção de Tim Burton, sequência do cult de 1988 pouco se importa com suas protagonistas.
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Antes de abordar o elefante listrado no meio da sala, quero falar dos roteiristas de “Os Fantasmas Ainda Se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice”, sequência do cult de 1988. A dupla Alfred Gough e Miles Millar (ambos homens, é claro) é conhecida por “Bater ou Correr”, “Bater ou Correr em Londres” e “A Múmia – A Tumba do Imperador Dragão”. Não inspira muita confiança, não é?

Desta vez, os roteiristas retratam três gerações de mulheres (Catherine O’Hara como a excêntrica Delia, Winona Ryder como a médium Lydia e Jenna Ortega como a aborrecente Astrid), mas é óbvia a falta de interesse nelas. Ryder é reduzida a caras e bocas, sempre passiva diante das maluquices de outros personagens, e Astrid é o estereótipo antipático de uma jovem revoltada.

Para completar, o diretor escalou a namorada para um papel em que a coitada mal abre a boca – melhor dizendo, ela abre a boca para sugar as almas de suas vítimas, como uma súcubo, mas quase não fala ou faz diferença na trama. Se eu fosse o Tim Burton, também anunciaria ao mundo que, de alguma forma, a Monica Bellucci caiu no meu papo, mas não dessa forma.

Estou sendo muito negativa? Logo com uma sequência que causa aquele quentinho no coração que só a nostalgia pode nos proporcionar? Desculpe. É que, como Lydia Deetz, eu também sou estranha e incomum. Mas tudo bem, vem aí um elogio. Burton lida muito bem com a ausência do ator Jeffrey Jones, preso em 2002 por posse de pornografia infantil.

Charles, o pai da Lydia, não é empurrado para debaixo do tapete (como o casal vivido por Alec Baldwin e Geena Davis). Ele morre de maneira estrambólica, num acidente aéreo muito bem recriado em animação. A tragédia é o pontapé engenhoso dessa reunião em família – que, apesar dos atritos, precisa conviver na casa que Beetlejuice aterrorizou décadas atrás.

Infelizmente, todas as mulheres de “Os Fantasmas Ainda Se Divertem” vivem em função dos homens. A viúva Delia transforma o luto pelo marido em uma enorme performance artística; Lydia é pressionada (ela sempre foi bobalhona assim?) e aceita se casar com o seu agente oportunista; e Astrid conhece um garoto bonitinho na cidade, graças a um oportuno acidente de bicicleta.

Quando as coisas se complicam, só uma criatura pior do que homem pode dar um jeito na situação: Beetlejuice. Beetlejuice. Beetlejuice. O timing cômico de Michael Keaton, que retorna ao papel, ainda é afiado. O personagem, porém, parece mais manso, como se tivesse envelhecido no além – mas ele não é o único a dar sinais de idade.

Burton ainda insiste num humor ultrapassado, como a figura do dono da lavanderia (um senhor asiático que mal fala inglês, um clichê esfarrapado do cinema americano). A rápida olhadela que Beetlejuice dá para a bunda de uma secretária, apesar de condizer com o personagem, também causa um breve desconforto. Que horas começam as piadas de sogra?

Muitos críticos vêm tratando “Os Fantasmas Ainda Se Divertem” como se, finalmente, Tim Burton tivesse despertado de um longo estupor de mediocridade. Há sequências divertidas – ou pelo menos esquisitas, o que já representa um avanço. Aquela qualidade transgressora que permeava o início de sua carreira, no entanto, já não está mais entre nós.

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