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Na sequência do clássico de 1996, não são as referências diretas que importam.
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No fim de “O Apocalipse de um Cineasta”, documentário sobre as filmagens de “Apocalypse Now”, Francis Ford Coppola diz que, graças às novas câmeras de 8mm, pessoas que normalmente não fariam filmes poderiam fazê-los – e, assim, uma garotinha gorda do Ohio seria um novo Mozart e faria um belo filme com a pequena câmera de seu pai.

O diretor de “O Poderoso Chefão” esperava que o chamado profissionalismo no cinema fosse totalmente destruído, para que o cinema se transformasse, enfim, numa verdadeira expressão artística. Coppola investiu boa parte de sua fortuna em “Apocalypse Now” e sonhava com a possibilidade de criar sem a interferência dos engravatados de Hollywood.

No novo “Twisters”, sequência do clássico dos anos 90 com Helen Hunt e Bill Paxton, os heróis são cientistas independentes, que estudam os tornados por uma fascinação genuína pelo fenômeno. E os vilões são funcionários uniformizados de uma empresa que se aproveita da catástrofe para arrematar as terras das famílias desesperadas.

O embate entre amadores (no melhor sentido da palavra) e profissionais (no pior sentido da palavra) não é novidade. Já no filme de 1996, Cary Elwes interpretava um almofadinha que, apesar dos equipamentos tecnológicos mais caros, ainda dependia do instinto e do conhecimento dos protagonistas, o casal Jo e Bill.

Na nova versão, que nada tem a ver com os personagens do primeiro filme, é o próximo Super-Homem quem dá vida ao exato mesmo tipo de antagonista. Fisicamente, David Corenswet até lembra a beleza fria de Elwes quase trinta anos atrás. E as semelhanças entre os dois filmes não param por aí.

É de se esperar, é claro, que uma sequência remeta ao original. Em “Twisters”, no entanto, o diretor Lee Isaac Chung, do queridinho “Minari”, prestou atenção aos elementos que tornaram “Twister” tão marcante e tratou de replicá-los – em vez de seguir o caminho mais seguro e fazer referências constantes aos personagens anteriores, como os últimos “Caça-Fantasmas”.

Se a obra de 1996 deu o primeiro grande papel ao incomparável Philip Seymour Hoffman, o novo cine-catástrofe é recheado de jovens atores em ascensão: Brandon Perea, de “Corra!”; Sasha Lane, de “O Mau Exemplo de Cameron Post”; Daryl McCormack, de “Boa Sorte, Leo Grande” e Katy O’Brian, de “Love Lies Bleeding – O Amor Sangra”.

No centro da trama, assim como no original, há um triângulo amoroso. Desta vez, ele envolve a cientista Kate Carter (Daisy Edgar-Jones, de “Normal People”), seu ex-colega Javi (Anthony Ramos, do musical “Em um Bairro de Nova York”) e o youtuber Tyler Owens (Glen Powell, de “Assassino por Acaso”).

Kate também é assombrada pelo trauma de um tornado da categoria mais destrutiva de todas, mas sua compreensão do fenômeno é ímpar. E, assim, ela retorna à caça dos twisters – que, em pleno 2024, é inundada por influencers tentando registrar o vídeo mais emocionante. Tyler é youtuber, mas é limpinho. Ele fez a lição de casa e se formou no campo.

Para capturar o maior número possível de visualizações, ele também precisa ser um showman (estamos todos nos promovendo na internet, certo?) e é um tanto ridicularizado por isso – assim como Bill em “Twister” por ter se tornado um homem do tempo na televisão. Um jornalista que acompanha Tyler cumpre a função da noiva de Bill no original, isto é, a pessoa normal que jamais iria na direção de um tornado. Um contraste com o bando de loucos.

Chung segue nessa toada, evitando referências diretas, mas traçando paralelos. Em “Twister”, um grupo de pessoas se refugia na fossa de uma oficina mecânica. Em “Twisters”, para também ficarem abaixo do solo, escolhem uma piscina vazia. Há um drive-in exibindo “O Iluminado” no primeiro filme. Agora, um cinema tradicional exibe “Frankenstein”.

É uma forma inteligente de se fazer uma sequência. Dando vida a algo novo, mas respeitando a essência do original. Com uma bilheteria que já superou as expectativas do seu lançamento, “Twisters” é um filme que só poderia ter sido feito por um amador (no melhor sentido da palavra) como Chung, recém-saído de um sucesso indie. E jamais por uma comissão de executivos.

Apesar das boas escolhas do diretor, Edgar-Jones não convence quando precisa evidenciar as feridas não-cicatrizadas de Kate, o que torna o fascínio que todos sentem por ela um tanto quanto desproporcional. Mesmo com os efeitos especiais mais tosquinhos, “Twister” ainda impressiona por cenas como a do carro que atravessa uma casa, ou do vislumbre do céu azul dentro de um tornado.

Faltou também algo que substituísse a indelével vaquinha voadora do original.

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