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Em "Missão Impossível 7", o ator de 61 anos tenta impedir a passagem do tempo.
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Os críticos americanos se referem a Tom Cruise como a última estrela de Hollywood. Em tempos em que o nome de um estúdio, como Disney ou Marvel, já é motivo suficiente para atrair o público, independente de quem esteja no elenco, o ator de 61 anos é um dos maiores chamarizes da indústria há algumas décadas.

Com raros tropeços em sua carreira, Cruise passou a produzir os próprios filmes porque seguradora alguma admitiria que a grande estrela saltasse de penhascos na Noruega ou escalasse o Burj Khalifa em Dubai. Neste sentido, Cruise também lembra atores da era silenciosa que, literalmente, quebravam o pescoço por uma cena – como Buster Keaton, em “Sherlock, Jr.”.

O diretor Christopher McQuarrie, o único a dirigir mais de um filme na franquia “Missão Impossível”, é um grande fã de Buster Keaton e, apesar da apreensão que deve sentir ao ver Cruise desafiando a morte, vem se aproveitando desse traço de insanidade do ator/produtor para conceber situações cada vez mais mirabolantes.

Cruise é, de certa forma, uma Norma Desmond que deu certo. Com uma vida pessoal marcada pela excentricidade (basta ver os vários documentários sobre a cientologia), os filmes foram ficando pequenos para a sua persona grandiosa, mas a última estrela de Hollywood deu um jeito de alargar as telas com as próprias mãos – ao menos, temporariamente.

Com todo esse contexto, é ainda mais poético que o arqui-inimigo de “Missão Impossível: Acerto de Contas – Parte 1” seja o próprio futuro. No sétimo capítulo das aventuras de Ethan Hunt, o adversário é uma inteligência artificial que se rebela contra o criador, consome todos os nossos dados e promete uma guerra de desinformação em nível mundial.

Em “Acerto de Contas”, temos a última estrela de uma Hollywood decadente lutando contra a passagem do tempo que, apesar dos procedimentos estéticos mais exclusivos, se manifesta nas rugas ao redor dos olhos – e também nos estúdios que ensaiam trocar seus roteiristas pelo ChatGPT, além de lucrar com as feições roubadas dos mortos por meio de hologramas ou deepfakes.

Sabendo o que sabemos sobre Tom Cruise, é difícil torcer por ele como pessoa, mas é fácil vibrar pelo o que ele representa no cinema e, sobretudo, em “Acerto de Contas”: a personificação da imprevisibilidade humana que tecnologia alguma seria capaz de replicar justamente porque, filme após filme, ele materializa o impossível.

Como todo “Missão Impossível”, a primeira parte de “Acerto de Contas” é divertida, repleta de cenários exóticos e mulheres lindíssimas (desta vez, temos Rebecca Ferguson, Hayley Atwell, Vanessa Kirby e a marcante Pom Klementieff) que fazem os 165 minutos de duração passarem voando. 

Há ótimas cenas de perseguição, com referências cinéfilas a “O Castelo de Cagliostro” e até “O Encouraçado Potemkim” – além, é claro, do final apoteótico que remete à obra-prima de Keaton, “A General”. Mesmo assim, o que se destaca é a obstinação de Cruise em correr contra o tempo e impedir o avanço de um futuro em que estrelas como ele não existem mais.

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