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Oscar 2019: Vice

Escrito e dirigido por Adam McKay, “Vice" é o pior filme na corrida pelo Oscar 2019.
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Escrito e dirigido por Adam McKay (de “A Grande Aposta”), “Vice” não é exatamente um filme, mas uma apresentação de PowerPoint bastante didática e com memes espalhados pelos slides. Embora as piadinhas sejam mais ou menos engraçadas, a sensação geral é de aula ou palestra – e não no bom sentido. Indicado em oito categorias do Oscar, inclusive melhor filme, McKay faz ficção no estilo dos documentários de Michael Moore, com o mesmo tom educativo e “irreverente” de um professor de cursinho pré-vestibular.

O assunto é interessantíssimo: a escalada ao poder de Dick Cheney (interpretado por um Christian Bale obeso e calvo), vice-presidente de George W. Bush (Sam Rockwell), mas McKay não deixa o espectador raciocinar sozinho. Tudo é falado e explicado, as referências são todas ilustradas (quando alguém menciona Nixon, por exemplo, uma foto de Nixon aparece). A narração constante, as citações e as inserções engraçadinhas serviriam, em tese, para tornar a obra mais dinâmica, mas o excesso de recursos narrativos revela a profundidade de uma piscininha infantil.

Interpretando Lynne Cheney, a excelente Amy Adams faz o que pode com falas que até aparentam discutir a misoginia no meio político, mas acabam sem qualquer elaboração, como frases de efeito lançadas ao aleatório. Conhecido por suas transformações físicas, Bale é forte candidato ao Oscar – a Academia gosta de premiar atores jovens e atraentes que se enfeiam para as câmeras, como se a falta de vaidade substituísse uma atuação sólida. Steve Carrell, contudo, está muito mais interessante como Donald Rumsfeld do que Bale como Cheney.

Todos os personagens parecem motivados por poder e cobiça, o que faz parte da natureza humana, mas não pode ser a única força motriz em um filme que trata de pessoas reais e complexas – por mais antipáticas que elas sejam. Com mais de duas horas de duração, “Vice” é um dos raros casos em que tanto o conteúdo como o estilo parecem ocos, que ofende a inteligência do espectador e não oferece o mínimo prazer visual. É o pior filme na corrida pelo Oscar 2019.

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