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A leveza de História de um Casamento

Líder de indicações no Globo de Ouro, filme com Scarlett Johansson e Adam Driver aborda o tema do divórcio sem virar dramalhão.
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Logo no início de “História de um Casamento”, Charlie apresenta a esposa e atriz Nicole com uma série de elogios precisos e carinhosos. Em seguida, é a vez de Nicole apresentar o marido Charlie, diretor de teatro com quem ela colabora há anos. O exercício proposto por um terapeuta seria uma forma de relembrar o que havia de bom no relacionamento, para que o divórcio possa ocorrer amigavelmente, sem prejudicar o filho de 8 anos do casal – mas a proposta não funciona muito bem.

Escrito e dirigido por Noah Baumbach, a produção da Netflix lidera as indicações ao Globo de Ouro, concorrendo nas categorias de melhor filme dramático, roteiro de cinema, ator principal (Adam Driver como Charlie), atriz principal (Scarlett Johansson como Nicole), atriz coadjuvante (Laura Dern como a advogada Norah Fanshaw) e trilha sonora original (Randy Newman, compositor conhecido pelo seu trabalho na Pixar).

O filme poderia ser tendencioso na caracterização do casal, já que o diretor se divorciou da atriz Jennifer Jason Leigh em 2010, com quem também teve um filho e costumava colaborar artisticamente, mas Baumbach é generoso e não obriga o espectador a escolher um lado ou outro da briga. Diferente do que ocorre em “Kramer vs. Kramer” (vencedor do Oscar de 1980, que também trata de divórcio), tanto Nicole como Charlie têm o espaço devido para expressarem as suas queixas.

Conversando com a advogada, Nicole descreve os acontecimentos que levaram ao divórcio, os planos próprios que sempre acabavam adiados em prol das vontades e da carreira dele: “Percebi que eu nunca me senti viva por mim mesma, eu estava me alimentando da vida dele.” Durante a  batalha judicial, tudo é distorcido e usado como munição – um atraso por conta do trânsito se transforma em abandono, um pequeno tropeço num degrau vira uma acusação de alcoolismo – mas nem tudo é desgraça e desespero.

Baumbach disse que queria misturar elementos clássicos de drama doméstico com disputa jurídica e comédia do gênero “screwball” (na década de 1930, Cary Grant era o “divorciado favorito” do cinema). Assim, “História de um Casamento” é permeado por uma leveza que só reforça a honestidade dos relacionamentos retratados. Perto do final, em uma cena aparentemente desnecessária, mas de uma beleza revigorante, Charlie canta em um bar: “Eu sempre estarei lá, tão assustado quanto você, para nos ajudar a sobreviver, estando vivo.”

Em “História de um Casamento”, não há herói ou vilão, apenas duas pessoas falhas que cometem erros e, ao longo do tempo, redescobrem uma nova forma de amor.

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