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O Homem do Norte

Épico de Robert Eggers é uma tragédia, não uma celebração troglodita.
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No início deste ano, falei sobre “O Último Duelo” e, logo em seguida, sobre “A Lenda do Cavaleiro Verde”, ambos passados na Idade Média. O primeiro trata da perspectiva torpe que dois homens que se julgam os heróis das próprias histórias podem ter dos acontecimentos. O segundo tem a ver com um jovem cavaleiro pressionado a viver conforme as expectativas heroicas do período.

Nos dois filmes, temos exemplos de como a masculinidade tóxica molda a história da humanidade, seja no âmbito prático da lei ou no campo do pensamento mítico. Quando se trata de um rigor histórico combinado com elementos fantásticos (seja um demônio, uma sereia ou uma valquíria), é fácil pensar na obra do diretor Robert Eggers.

Já nos cinemas, “O Homem do Norte” parece fazer parte da tendência de desconstrução do ethos masculino por meio de personagens que, outrora, seriam representados como heróis nobres e triunfantes. Afinal, não há figura mais cobiçada entre supremacistas brancos – e homens frustrados em geral – do que a do viking.

Ao contrário do que muitos achavam, o terceiro longa-metragem de Eggers não é uma celebração troglodita, mas uma tragédia. Baseado em “Hamlet”, “O Homem do Norte” trata de um príncipe que jura vingança depois que o seu tio assassina o rei e sequestra a rainha. Seu mantra é “eu vou te vingar, pai; eu vou te salvar, mãe; eu vou te matar, Fjölnir”.

Junto de um bando de guerreiros crossfiteiros, vemos o príncipe Amleth (Alexander Skarsgård) participando de todo tipo de atrocidade. Um longo plano sequência mostra a invasão brutal de um vilarejo que culmina no incêndio de uma cabana com crianças trancadas do lado de dentro. A violência não é glorificada, é para sentirmos ojeriza.

Sem dar spoilers, é suficiente dizer que seus objetivos são quase todos frustrados. Tudo o que ele acreditava desde menino era mentira. Confrontado com a realidade, ele se imagina como um herói carregado por uma valquíria até o paraíso – um paraíso que nunca chega. Entre o amor pelos seus e o ódio aos inimigos, ele toma o caminho errado, aquele que consome a todos.

Amleth não é um herói, ele é um idiota – burro o suficiente para continuar acreditando, já adulto, em uma versão infantil de masculinidade, ensinada pelo próprio pai, um outro babaca. Eggers sabe disso. Não é a primeira vez que ele trata do assunto (veja “O Farol”, disponível agora na Netflix). Após marinheiros e vikings, estou ansiosa para ver que outra figura emblemática o diretor irá demolir com o mesmo vigor.

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