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Comédia romântica com casal negro renova o gênero de maneira deliciosa.
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Há alguns dias, o ator Ben Barnes deu uma entrevista dizendo que vive pedindo comédias românticas ao seu agente, mas que só recebe propostas para interpretar psicopatas. A comediante Ashley Nicole Black comentou que tanto os atores como os roteiristas e os espectadores estão implorando por comédias românticas, mas os executivos só têm interesse em adaptações de quadrinhos ou cinebiografias.

É provável que a sua comédia romântica favorita tenha mais de vinte anos nas costas, como “Um Lugar Chamado Notting Hill” ou “Simplesmente Amor”. Nos últimos anos, porém, produções mais modestas, como “Doentes de Amor” e o criativo “Palm Springs”, conseguiram furar a bolha dos super-heróis. Minorias pouco representadas no gênero também fizeram sucesso com “Podres de Ricos” e “Com Amor, Simon” – mas ainda é pouco.

Disponível na Star+, “Rye Lane – Um Amor Inesperado” acompanha dois jovens negros pelo sul de Londres. Vivido por David Jonsson, o certinho Dom ainda não conseguiu superar o término com a ex-namorada, Gia. Já a descolada Yas (Vivian Oparah) parece mais bem resolvida com o seu passado romântico, mas as aparências enganam. Yas não é uma “manic pixie dream girl” encarregada de remendar o coração do homem que acaba de conhecer.

Com direção da estreante Raine Allen-Miller, “Rye Lane” subverte as expectativas de maneira deliciosa. Com um estilo jovem e dinâmico, que vai se alterando conforme a evolução da narrativa, Allen-Miller às vezes abusa da lente olho de peixe, mas a distorção reforça o caráter mais fantasioso que muitas comédias românticas exigem.

Uma brevíssima participação de Colin Firth como um vendedor de burritos em um restaurante chamado “Love Guac’tually” (trocadilho com o título original de “Simplesmente Amor”) dá o tom de uma produção que busca renovar o gênero da comédia romântica. Vinte anos atrás, Firth interpretaria o galã enquanto um jovem negro seria apenas um figurante – um garçom ou, no máximo, um alívio cômico. 

Além de inverter os papéis, “Rye Lane” também apresenta uma Londres multicultural, que vibra em cada plano – detalhes como o do homem sem camisa numa janela ao fundo, uma criança que passa correndo de patinete e uma desconhecida vestida como Bridget Jones em uma festa à fantasia dão vida ao universo do casal. Parece que o mundo fica mais interessante quando Dom e Yas estão juntos.

E o cinema também fica mais interessante quando novos talentos têm a chance de fazer boas comédias românticas como “Rye Lane”.

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