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No quarto filme da franquia, a personagem Bo Peep ganha um protagonismo que deve irritar a ministra Damares Alves.
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Por que fazer outro “Toy Story”, depois da conclusão perfeita que foi o terceiro filme, lançado em 2010? Por dinheiro, é claro. Nos Estados Unidos, a animação deve faturar algo entre US$150 e US$200 milhões, apenas no final de semana de estreia. No lugar do curta-metragem, que geralmente antecede os grandes lançamentos da Pixar, há um breve comercial do novo parque temático da Disney, todo voltado ao universo dos brinquedos – por coincidência, boa parte da quarta aventura de Woody, o leal caubói vivido por Tom Hanks, se passa em um parque de diversões. 

“Toy Story 4” pode ser interpretado como uma grande propaganda da Disney, às custas da franquia de maior sucesso da Pixar – um estúdio de origem efervescente e que, nos últimos anos, vem priorizando continuações no lugar de histórias originais (na verdade, sete das últimas onze produções foram sequências). Mas nem tudo é cinismo no coração de um crítico de cinema. Afinal, a animação não é ruim. A emoção, o humor, a estranheza e até os elementos de terror, que tornaram a trilogia tão marcante, estão todos presentes.

Dirigido por Josh Cooley, roteirista de “Divertida Mente” e artista de storyboards da Pixar, “Toy Story 4” começa com um flashback que explica o sumiço da pastora Bo Peep (ou Betty, como é chamada no Brasil). Ausente em “Toy Story 3”, a personagem é pouco explorada nos dois primeiros filmes, servindo apenas como um breve interesse romântico de Woody. Já em “Toy Story 4”, ela ganha um protagonismo que deve irritar a ministra Damares Alves. Vivendo sem dono, Bo transforma a saia comprida em capa e vai viver as próprias aventuras – até encontrar Woody, durante uma viagem da família de Bonnie.

Vale lembrar que “Toy Story” e “Toy Story 2” foram dirigidos por John Lasseter, afastado da Pixar por denúncias de assédio sexual. Transformar a pastora Bo em uma personagem mais complexa e tridimensional é uma espécie de reparação histórica – e uma tentativa da Disney, é claro, de surfar no zeitgeist do movimento #MeToo. Antes que os reacionários comecem a urrar “quem lacra não lucra”, já é certo que a Disney irá lucrar (e muito). Aos mais céticos, a mudança de tom na franquia pode não ser fruto da bondade dos empresários, mas faz diferença.

“Toy Story 4” não é tão grandioso ou emocionante quanto o terceiro filme, mas tem novos personagens que são o verdadeiro destaque da animação – em especial, Tony Hale, como Garfinho, e Keanu Reeves, como Duke Caboom. A dupla cômica Keegan-Michael Key e Jordan Peele também empresta uma química hilária aos bichinhos de pelúcia Coelhinho e Patinho. Já a doce Christina Hendricks interpreta a incompreendida Gaby Gaby. Com tantas novas personalidades, os brinquedos mais antigos aparecem menos. A quarta animação da franquia é, afinal, um romance entre Woody e Bo (e com um final digno de faroeste).

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