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Dirigida por Hayao Miyazaki, a quinta animação do Studio Ghibli é um clássico atemporal.
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Nesta semana, Kiki virou uma balzaquiana. Lançada em 1989, a quinta animação do aclamado Studio Ghibli é, talvez, uma das obras mais introspectivas do diretor japonês Hayao Miyazaki, ganhador do Oscar por “A Viagem de Chihiro” (2001). Conhecido por suas protagonistas femininas, em “O Serviço de Entregas da Kiki”, Miyazaki retrata uma jovem bruxa de 13 anos que, apesar das dificuldades, aprende a se virar sozinha após se mudar para uma cidade nova e de criar um serviço de entregas (voando de vassoura, é claro) para uma deliciosa padaria.

Ao chegar na litorânea Korico, um vilarejo pouco acostumado com bruxas, Kiki se sente estranha e diferente das outras crianças de sua idade. Com dificuldade para fazer amigos, sua única companhia é um adorável gatinho falante chamado Jiji – mas, durante a sua jornada de amadurecimento, até o mascote pode parecer incompreensível. Apesar dos elementos mágicos, é fácil para espectadores de várias faixas etárias se identificarem com as dúvidas e as aflições de Kiki: o isolamento, a insegurança e o desejo de se encontrar, de saber que o seu talento tem lugar e serventia no mundo.

Contrariando o adágio de que é importante trabalhar com o que se ama, assim que a bruxinha transforma a habilidade de voar em um serviço lucrativo, ela perde o prazer que sentia quando não era obrigada a entregar encomendas por toda a cidade. Tomada por uma espécie de bloqueio criativo, ela não consegue mais voar e também deixa de entender o que o gatinho Jiji fala. Relacionando a magia com a arte, é a desenhista Ursula que ajuda Kiki a procurar inspiração nela própria e a redescobrir a beleza ao seu redor.

As animações de Miyazaki não oferecem respostas simples, mas as suas obras inspiram, sempre com humor e doçura, um senso de integridade e de emancipação. Ao tratar de meninas fortes, corajosas e auto-suficientes, o diretor liberta suas protagonistas da espera por um príncipe encantado ou de um cavaleiro em armadura reluzente. Suas heroínas, afinal, podem precisar de um amigo, mas nunca de um salvador. Em “O Serviço de Entregas da Kiki”, não é o romance inocente com o menino Tombo que torna a vida da personagem mais branda, mas a sua própria agência.

É graças a essa abordagem revolucionária que “O Serviço de Entregas da Kiki” parece tão atual, mesmo 30 anos depois do seu lançamento. Diferente da Disney, o Studio Ghibli não precisará fazer uma animação como “Frozen” para pedir desculpas pelo tratamento dado às suas personagens femininas em décadas passadas. Mesmo demonstrando vulnerabilidade e sensibilidade, as protagonistas de Miyazaki são exemplos de bravura e independência.

**No Brasil, não é fácil achar “O Serviço de Entregas da Kiki” nas plataformas de streaming, mas os adeptos da mídia física ainda podem encontrá-la em DVD e Bluray.

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