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Única animação do sucessor de Hayao Miyazaki chega à Netflix.
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Em janeiro de 1998, Yoshifumi Kondo teve um aneurisma e faleceu aos 47 anos, interrompendo uma carreira promissora no adorado Studio Ghibli. Apontado como o sucessor espiritual do mestre Hayao Miyazaki, Kondo foi responsável pelo primeiro longa da produtora sem a direção de um de seus fundadores, Isao Takahata e Miyazaki. Com roteiro de Miyazaki, “Sussurros do Coração” (1995) conta a história de Shizuku Tsukishima, uma escritora aspirante de apenas 14 anos, e o seu relacionamento com o jovem músico Seiji Amasawa.

Na loja de antiguidades do avô de Seiji, a estátua de um gato (batizado como Barão Humbert von Gikkingen) chama a atenção de Shizuku. Durante o intercâmbio de Seiji na Itália, ela se dedica a escrever as aventuras do Barão. Ainda que as partes mais fantasiosas, destinadas ao felino, sejam bonitas e bem feitas, o verdadeiro forte de “Sussurros do Coração” está no universo realista da própria escritora, todos os seus anseios e as suas frustrações na busca de uma vocação, tema também retratado em “O Serviço de Entregas da Kiki” (1989).

No Studio Ghibli, Kondo trabalhou nas produções de “Túmulo dos Vagalumes”, “O Serviço de Entregas da Kiki”, “Memórias de Ontem”, “Porco Rosso”, “PomPoko” e “Princesa Mononoke” – “Sussurros do Coração” se tornaria o seu primeiro e último longa. Sua morte repentina motivou a primeira tentativa de aposentadoria de Miyazaki (que retornaria ao trabalho em 2001, com “A Viagem de Chihiro”). O aneurisma de Kondo foi atribuído ao esforço ocupacional, um problema grave na indústria da animação japonesa.

No Japão, “karoshi” significa, literalmente, “morte por excesso de trabalho”. Com uma das piores cargas horárias do país, os animadores têm uma expectativa de vida bastante reduzida. Muitos trabalham 15 horas por dia, todos os dias – 90% desistem da profissão com menos de 3 anos de carreira. “Vi pessoas indo para casa apenas uma vez por semana, ou trabalhando 35 horas seguidas. Até conheci uma diretora de animação que ia para casa só uma vez por ano, ela estava morando no estúdio,” disse o francês Thomas Romain que atua na indústria dos animes.

A doçura de “Sussurros do Coração”, tão rico nos detalhes da vida de sua protagonista, é um testamento ao talento de Yoshifumi Kondo, massacrado por uma cultura de sacrifícios. Foi graças ao seu trabalho como diretor de animação em “Princesa Mononoke” que o Studio Ghibli alcançou a notoriedade internacional. Em homenagem póstuma, Miyazaki declarou: “Eu sou o tipo de pessoa que abandona o navio antes mesmo de saber que ele está afundando, Kon-chan era o tipo de pessoa que amava o navio e as pessoas que estavam nele, que escolhia afundar junto com o navio.”

“Sussurros do Coração” está disponível na Netflix.

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