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Dirigida por J.J. Abrams, conclusão de "Star Wars" tenta apaziguar fãs raivosos.
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Apesar de ter conquistado a maioria da crítica especializada e de ter faturado mais de US$1 bilhão, “Os Últimos Jedi”, segundo filme da trilogia recente de “Star Wars”, foi bastante atacado por fãs raivosos – em especial, por grupos de extrema direita que não queriam a representatividade de minorias na franquia e por bots russos que se aproveitaram da situação para fomentar a guerra cultural. Tirando a motivação política destes ataques, o que há no filme escrito e dirigido por Rian Johnson que ainda incomoda tanto?

Em “Os Últimos Jedi”, o espírito de Yoda aparece e fala para Luke Skywalker que é hora de superar o passado e passar o seu conhecimento adiante (inclusive o que aprendeu com os próprios erros, pois o fracasso é o melhor mestre). Neste momento, Johnson está dizendo aos fãs que é preciso deixar a nostalgia de lado, admitir as próprias falhas e ceder espaço para o novo – praticamente um sacrilégio para uma saga tão arraigada em nostalgia, na aparente perfeição de uma galáxia distante, “há muito tempo atrás”.

Muitos fãs de “Star Wars”, especialmente os que passaram boa parte da infância ou da adolescência assistindo à trilogia original de George Lucas, não querem que a franquia siga adiante. “Eles não querem que personagens como a Rey sejam completamente novos; eles não querem que os seus pais sejam ‘ninguém’ como o Kylo diz. Querem que a sua linhagem tenha uma conexão fundamental com os filmes antigos, reafirmando a sua importância e mantendo a sua primazia neste universo ficcional”, escreve o crítico Matt Singer.

Em suma, estes fãs não querem crescer e muitos menos abrir caminho para o “diferente” (inclua aí mulheres, negros e asiáticos). É reacionarismo, puro e simples, com pitadas de misoginia e racismo. Com “A Ascensão Skywalker”, conclusão dirigida por J.J. Abrams, a Disney abre um precedente perigoso ao atender quase todas as demandas feitas por trolls e radicais de direita, criando um produto cultural que é tão submisso ao “fanservice” que beira ao pornográfico.

Não se preocupe, não vou falar das inúmeras revelações e reviravoltas completamente ridículas e sem sentido que acontecem no decorrer do filme. Basta dizer que os arcos dos personagens foram todos jogados no lixo em prol de uma sequência de momentos manufaturados para arrancar palmas dos nerds babacas. Assim, há uma série de aparições desnecessárias de personagens antigos, como se fossem personagens de “A Praça é Nossa” – além das “correções” do que já havia sido estabelecido em “Os Últimos Jedi”.

Com uma equipe desanimadora de roteiristas, com créditos que incluem “Liga da Justiça”, “Batman vs. Superman” e “Jurassic World”, resta ao diretor retornar às suas artimanhas estéticas, colocando “lens flare” até em uma cena passada na escuridão de uma caverna. Os defeitos mais gritantes, no entanto, são o desrespeito com a personagem de Rose Tico, interpretada por Kelly Marie Tran, e a total incapacidade de criar um final satisfatório para Leia, justamente em um filme que deveria ser a sua despedida. “A Ascensão Skywalker” é um monumento à covardia da Disney e mais uma prova de que Rian Johnson tinha razão.

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