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Com Kirsten Dunst e Wagner Moura no elenco, produção da A24 foge de vespeiro ideológico.
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No SXSW que ocorreu em março, o diretor Alex Garland disse que “esquerda e direita são apenas argumentos ideológicos sobre como gerir um estado” e que não podem ser considerados como “certo ou errado, bom ou mau”. Esta declaração, que poderia ter saído dos lábios de intelectuais como Jojo Toddynho, define bem o vácuo político do novo “Guerra Civil”.

Antes que alguém reclame que “estão querendo enfiar política em tudo”, um filme chamado “Guerra Civil”, que se passa durante uma violenta insurreição nos Estados Unidos (e lançado no ano das eleições americanas, sendo que um dos candidatos à presidência promoveu uma invasão ao Capitólio), é justamente onde deveríamos “enfiar” a política – aliás, “enfiar” seria desnecessário, ela deveria jorrar de dentro para fora como um vulcão em erupção.

O vulcão de Garland, no entanto, está mais para uma colina inofensiva. Há, é claro, menções de que o presidente fictício do filme, interpretado por Nick Offerman, já está em seu terceiro mandato e que aboliu o FBI (isso que dá eleger o libertário Ron Swanson), mas não há nada que situe o conflito. Quem está atirando em quem? Quais são as reivindicações? Se o presidente for deposto, quem entra no lugar?

Presenciamos toda a violência com uma certa frieza, apesar da edição de som, que transforma cada tiro num baque ensurdecedor. Durante a sessão, dei mais pulos na poltrona do cinema do que vendo muitos filmes de terror. E, no entanto, assim que “Guerra Civil” acabou, saí tranquila da sala, pensando no que iria comer e como seria o trânsito de volta para casa.

Apesar da falta de contexto, os atores carregam o filme nas costas. Dá um certo orgulho ver Wagner Moura na produção mais cara da prestigiada A24, além da estreia mais bem sucedida do selo. E tudo sem ficar devendo um milímetro às performances de Kirsten Dunst, Cailee Spaeny e do veterano Stephen McKinley Henderson.

Em “Guerra Civil”, um grupo de jornalistas precisa atravessar o país para entrevistar o presidente, que está entrincheirado na Casa Branca e prestes a ser destituído. O percurso é bastante perigoso porque, em algumas regiões, a imprensa é vista como inimiga. De fato, há algo de eletrizante num road movie em circunstâncias tão extraordinárias e com um bando tão heterogêneo.

Em uma determinada cena, fiquei imaginando fanarts dos personagens de Moura e Spaeny – é pitoresco ver um homem alto segurando uma garota franzina pelo seu colete à prova de balas, na tentativa de protegê-la durante um tiroteio. E, apesar da minha conexão com os personagens, “Guerra Civil” segue um caminho previsível e sem grande impacto (já que mencionei filmes de terror, é como adivinhar quem será o primeiro a morrer).

Para evitar o teor político, Garland se refere a “Guerra Civil” como uma homenagem ao jornalismo – mais precisamente, ao “jornalismo das antigas”, talvez por considerá-lo mais neutro do que esse jornalismo nutella de agora, como o que rendeu o Oscar de melhor documentário a “20 Dias em Mariupol”. Como esses jornalistas ousaram tomar o partido da Ucrânia!?

A imparcialidade é um mito. Todos nós somos orientados, de forma consciente ou inconsciente, pelas nossas vivências, nossa educação, nosso meio. Para não mexer no vespeiro ideológico, o diretor centra a narrativa em uma fotojornalista – afinal, a fotografia captura a realidade objetiva, certo? Mas Garland se esquece que cada fotógrafo tem um olhar único e que cada clique implica numa escolha, que é “o que eu deixo de fora do meu enquadramento?”

Considerando o fraquíssimo “Men – Faces do Medo” e a conclusão desajeitada de “Aniquilação”, Garland se firma como um cineasta capaz de produzir imagens intrigantes, mas que não sabe embasar ou articular as premissas que ele mesmo propõe. Ao se esquivar dos temas espinhosos, o diretor mais revela do que esconde. E a grande revelação de “Guerra Civil” é a própria covardia.

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