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Netflix: O Assassino

Dirigido por David Fincher, Michael Fassbender vive um assassino de aluguel que é fã de The Smiths.
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No começo de “O Assassino”, acompanhamos o personagem interpretado por Michael Fassbender em um escritório abandonado da WeWork, startup voltada aos espaços de coworking e que, há pouquíssimo tempo, pediu recuperação judicial. Dá para ver que não se trata de um filme de época. Estamos no século 21.

Com múltiplos passaportes e diferentes cartões de crédito, o homem de muitos nomes observa o prédio vizinho e, num constante monólogo interno, menciona que “se você não é capaz de suportar o tédio, este trabalho não é para você” – em seguida, ele acaba cochilando. É a primeira de uma série de contradições deliciosas apresentadas por David Fincher.

Com uma filmografia de aparência fria e soturna, muito dada aos crimes e à violência em geral, o diretor de títulos como “Clube da Luta”, “Zodíaco” e “Os Homens Que Não Amavam as Mulheres” sempre deixou pistas de sua vulnerabilidade, cuidadosamente escondida sob a superfície durona. 

O que dizer de um matador de aluguel que tenta se convencer de que a empatia é apenas uma fraqueza e que não dá a mínima para nada, mas é também fã número um da banda The Smiths? Durante um serviço, o refrão de “How Soon is Now?” ecoa “sou humano e preciso ser amado, assim como todo mundo”.

E é justamente para defender uma pessoa amada (interpretada pela atriz brasileira Sophie Charlotte) que o nosso assassino anônimo passa o resto do filme caçando seus alvos e contrariando seus mantras pessoais. A todo momento, ele se depara com imprevistos e erros de cálculo, ainda que repita “se atenha ao plano, não improvise” inúmeras vezes.

É divertido ver Fincher colocar o texto e o subtexto em conflito. Para quem se concentrar apenas no texto, o assassino pode parecer um criminoso “cool” como Alain Delon em “O Samurai”, de Jean Pierre-Melville, mas testemunhamos o personagem tomando atitudes nada perfeccionistas e, literalmente, levando uma surra.

“Clube da Luta” é infame pelos fãs que não compreenderam a obra e que tratam o sociopata Tyler Durden, vivido por Brad Pitt em 1999, como um ideal masculino. Com “O Assassino”, Fincher parece tirar sarro da interpretação falha de seus espectadores habituais – o que é mais do que merecido.

No fim, é revelado um monstro muito mais frio e assustador do que o capanga que faz qualquer morte parecer um acidente, mas quem não reconhecê-lo na ficção tem poucas chances de reconhecê-lo na vida real.

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