Enquanto o mundo acompanha a apuração de uma eleição que pode ser decisiva para negros, latinos, mulheres e LGBTQ+, é difícil escrever sobre um filme que retrata o processo de imigração como uma história de terror. Em “O Que Ficou Para Trás”, longa-metragem de estreia do diretor Remi Weekes, um casal sudanês foge da guerra para recomeçar a vida na Inglaterra – mas, apesar de estarem “seguros” em outro país, a sobrevivência é um processo muito mais doloroso e assustador.
“Quando você pede asilo, você recebe acomodações, uma casa, mas não pode ir para outro lugar, é obrigado a ficar lá. E também não pode trabalhar, você recebe uma pequena mesada. Pedir asilo pode ser traumatizante. E isto se tornou o cerne do filme,” disse o diretor durante entrevista. Em “O Que Ficou Para Trás”, Bol (Sope Dirisu) se esforça para levar a nova vida adiante, mas Rial (Wunmi Mosaku, de “Lovecraft Country”) parece presa aos traumas de sua jornada.
Morando em uma casa decrépita, situada em uma vizinhança hostil, o casal convive com as memórias do passado e os barulhos estranhos de dentro das paredes, mas os fantasmas não são o verdadeiro horror de “O Que Ficou Para Trás”. Uma das cenas mais tensas do filme acontece quando Bol pede outra acomodação ao assistente social (interpretado por Matt Smith), apenas para ser lembrado de que o governo inglês procura por qualquer desculpa para deportá-los.
“O Que Ficou Para Trás” utiliza elementos sobrenaturais para acentuar as características mais apavorantes de um processo que é assustadoramente real. Os garotos que gritam “volte para a África”, o segurança da loja que segue o protagonista, a difícil assimilação cultural e a constante ameaça de serem enviados de volta ao país de origem tornam as aparições ainda mais cruéis, pois não há alívio ou escapatória. Para os mais vulneráveis, não há outra alternativa a não ser encarar os monstros.