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Sob quilos de prostéticos, Colin Farrell dá vida a um vigarista asqueroso que é capaz de tudo. Não, não é a cinebiografia de Donald Trump.
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Por um grande acaso, Donald Trump acaba de ser reeleito à presidência dos Estados Unidos e, no domingo, teremos a conclusão da série “Pinguim”, aquela do Colin Farrell irreconhecível – e há algumas semelhanças que unem os dois personagens. Um deles é um vilão cartunesco que desconta as próprias inseguranças em toda a humanidade; e o outro é inimigo do Batman.

Desde o primeiro episódio, é evidente a influência de “Sopranos” na série da Max. Oswald Cobb (Farrell sob quilos de prostéticos) é um gângster calvo e gordinho numa luta constante pelo poder. Para completar, ele também tem uma mãe narcisista. Diferente de Tony Soprano, porém, ele é ridicularizado pela deficiência na perna que lhe dá o seu apelido pejorativo – Pinguim.

Na virada do século, “Sopranos” inaugurou uma era de anti-heróis na televisão – dominada, mais especificamente, pela tríade Tony Soprano, Don Draper e Walter White. Nos acostumamos com estes homens complexos que, apesar de suas vulnerabilidades tão cativantes, eram também capazes de cometer atrocidades. E Oswald, ou Oz, deveria se encaixar no grupo, se não fosse um completo sociopata.

Derivada do filme de 2022, “Pinguim” nos leva por um caminho sorrateiro (tão sorrateiro quanto um vigarista pode ser). Somos apresentados a um lacaio, um operário na base da pirâmide, que lida com o escárnio diário dos chefes mais acima. Ao apadrinhar um garoto pobre, ele fala de sua origem humilde e dos sonhos que tinha na infância.

É fácil sentir empatia por Farrell, mesmo através do látex. Quando Oz precisar recorrer à violência, é mais ou menos aceitável que o faça. Afinal, ele tem os seus motivos. A vida toda, ele foi menosprezado pela sociedade. E é na base do ressentimento e de várias promessas de prosperidade que ele acumula aliados – apenas para usá-los como escada.

Por incrível que possa parecer agora, Donald Trump já foi uma figura remotamente carismática. Não teria tantas temporadas de “O Aprendiz” se não o fosse. Não é de origem humilde, mas fez fama cultivando a imagem de um empresário sincerão que só come fast food – e prometendo a chave do sucesso com seus livros de autoajuda, suas universidades e seus cassinos fraudulentos.

Para os seus eleitores, não importa que ele tenha sido condenado. Não importa que tenha incitado um golpe violento. Não importa as barbaridades que ele fale ou faça. Ele também tem os seus motivos. Seu sucesso é um símbolo de que o homem branco médio ainda tem o seu lugar na sociedade americana (mesmo que o seu lugar nunca tenha sido ameaçado de fato).

Trump é um conservador que não necessariamente defende as pautas conservadoras; um religioso que, muito provavelmente, não sabe rezar um Pai Nosso. Tanto faz. Ele é o que precisar ser para se manter no poder, sem qualquer compromisso com nada além de si mesmo. Na série, Oz também faz o que tem de fazer, sem remorso algum, doa a quem doer.

Mesmo sem ver o episódio final, já é óbvio para mim que, diferente dos anti-heróis de outrora, tanto Trump como Oz estão além de qualquer possibilidade de redenção.

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