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Por que filmes e séries têm utilizado uma fotografia cada vez mais sombria?
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Ontem, foi dia do social media da conta de suporte da HBO Max trabalhar. Para cada espectador que reclamou da escuridão do último episódio de “House of the Dragon”, uma resposta padrão: “a luz fraca é uma decisão criativa intencional”. O diretor foi Miguel Sapochnik, o mesmo do infame episódio de “Game of Thrones” que gerou as mesmas queixas.

Não adiantou apagar as luzes da sala, fechar as cortinas e aumentar o brilho da televisão, as cenas continuaram escuras e, num momento crucial para a trama, foi difícil discernir a atuação dos atores – visíveis apenas pelos cabelos brancos. No Twitter, usuários com monitores OLED relataram que o episódio foi um pouco mais fácil de assistir.

É difícil de entender por que repetiriam o erro de “GoT” e fariam a mesma escolha estética, considerando que o público da série não está num cinema de última geração, com condições ideais para apreciar a fotografia sombria. Há alguns anos que vários filmes e séries apostam na escuridão, por motivos práticos e puramente criativos.

O trailer da versão live-action de “A Pequena Sereia”, por exemplo, foi bastante criticado pela aparência quase lúgubre do fundo do mar, que costumava ser tão vibrante na animação original. Algumas pessoas alegaram que o fundo do mar é mesmo escuro na vida real, mas estamos falando de uma fantasia feita para crianças.

No caso da Disney, é bem provável que a escuridão sirva para esconder possíveis defeitos. É sabido que o conglomerado explora os artistas de efeitos especiais, exigindo mudanças constantes e prazos impossíveis para uma quantidade gigantesca de trabalho. É por isso que quase todo clímax da Marvel se passa num não-lugar cheio de fumaça e poeira.

Há também o argumento da câmera digital de que, quando se filmava em película, a equipe se empenhava para iluminar bem a cena porque não tinha como saber, de imediato, qual seria o resultado. Se você tem uma câmera fotográfica analógica, você se esforça para tirar uma boa foto e não desperdiçar poses. Com o celular, basta apontar.

Ainda que tenha lógica, não acredito totalmente nesse argumento. Há filmes belíssimos filmados em câmera digital, que podem ser assistidos tanto no cinema como num monitor comum. O diretor de fotografia Steve Yedlin, que trabalha com Rian Johnson, chegou a “tapear” vários profissionais do ramo com um teste que mesclava 35mm e câmera digital.

Para Yedlin, não é a câmera que determina o resultado final, mas o tratamento dado às imagens capturadas. No caso de “House of the Dragon”, há uma fotografia de divulgação da mesma cena escura de ontem, mas em plena luz do dia – indicando que, muito provavelmente, a produção utilizou o recurso da “noite americana”.

“Noite americana”, além de ser um filme de François Truffaut, é quando uma cena que se passa à noite é filmada durante o dia, mas com um ajuste para tornar a imagem escura. É um recurso utilizado para evitar uma produção noturna, cheia de refletores caros. É verdade que a HBO Max está mal das pernas, mas não economizariam justo com a série que é carro-chefe da plataforma.

Ou seja, o que aconteceu ontem não foi um acidente, mas uma escolha. Uma escolha ruim, mas consciente. Com certeza, o diretor deve ter se justificado dizendo que a série está tomando um rumo ainda mais sombrio e, por isso, tudo precisa ser mais escuro, para representar a dubiedade moral dos personagens ou algo assim.

Na contramão, “Rings of Power” tem adotado um visual muito mais claro e cheio de contraste, por tratar de um material mais maniqueísta, sem tantas zonas cinzentas. Afinal, “Rings of Power” tem heróis e vilões óbvios, mesmo que sejam “tentados” a mudar de lado, enquanto os personagens de “House of the Dragon” são todos sempre questionáveis.

Mais uma vez, é um argumento que faz sentido, mas que não explica totalmente esse apagar de luzes generalizado no entretenimento. Sem dado algum para fazer esta acusação, mas com base no meu próprio instinto, acredito que temos um culpado: Christopher Nolan. 

Com sua trilogia “Batman”, foi Nolan quem inaugurou a “fantasia realista”, que tem sido imitada desde então por diretores como Zack Snyder ou Todd Phillips. Parece que o fã de Batman ficou com vergonha de gostar de quadrinhos e passou a exigir algo mais sério e sisudo, que combine com a idade adulta. 

E com uma ideia quase infantil do que é ser adulto, com a falsa percepção de que a falta de cores remete ao realismo e à seriedade, é que os diretores estão estragando os nossos olhos (tanto o astigmatismo como a capacidade de sentir prazer visual).

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