O Yuri Szirovicza venceu o sorteio do Twitter e escolheu o filme desta semana: “Quanto Mais Quente Melhor”!
Filho de judeus austríacos, Billy Wilder escapou dos horrores do Holocausto e se tornou um dos diretores mais brilhantes da Era de Ouro de Hollywood. Com filmes fundamentados na força do roteiro e de seus diálogos, dirigiu 14 atores diferentes em perfomances indicadas ao Oscar. Um de seus atores favoritos era Jack Lemmon, com quem trabalharia 7 vezes durante a carreira. A primeira parceria da dupla, “Quanto Mais Quente Melhor” (1959), é considerada como a melhor comédia americana já feita, de acordo com o American Film Institute.
Celebrado pela crítica e pelo público, “Quanto Mais Quente Melhor” recebeu 6 indicações ao Oscar, inclusive melhor ator, diretor e roteiro adaptado. O sucesso comercial do filme representou o último prego no caixão do Código Hays, um conjunto de normais morais aplicadas aos lançamentos americanos entre os anos de 1930 e 1968, mas que perdeu boa parte da influência em suas últimas décadas. Por retratar homens em trajes femininos e temas homossexuais, “Quanto Mais Quente Melhor” foi produzido sem o selo de aprovação do Código.
Toda a trama do filme se passa no ano de 1929, durante a Lei Seca. Joe e Jerry, dois músicos de jazz (interpretados por Tony Curtis e Jack Lemmon), testemunham um crime e precisam fugir da cidade. Para tal, eles se disfarçam de Josephine e Daphne e viajam com uma banda feminina para Miami, onde conhecem a cantora Sugar (Marilyn Monroe) e o milionário Osgood Fielding III (Joe E. Brown). Joe se apaixona por Sugar, enquanto Jerry/Daphne fica noiva de Osgood. Em sua cena final, Daphne confessa que é homem, mas o milionário responde: “Ninguém é perfeito”.
Em 1959, a homossexualidade e o transformismo ainda eram caracterizados como patologias psicológicas no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Ainda que “Quanto Mais Quente Melhor” nunca defina Jerry como gay, travesti ou transsexual, a pura possibilidade de um relacionamento entre dois homens já desafiava a censura americana. Mesmo que os gêneros e as orientações sexuais de seus personagens sejam retratados com certa ambiguidade, o filme de Billy Wilder é prazerosamente subversivo para a metade do século XX.
Interpretando Sugar, Marilyn Monroe empresta toda a sua vulnerabilidade e doçura ao papel da cantora ingênua. Com a saúde mental deteriorada pelo vício, Monroe estava grávida do dramaturgo Arthur Miller, se sentia pressionada por não estar em sua melhor forma física e tinha medo de sofrer mais um aborto. Sem conseguir se concentrar, muitas de suas cenas tiveram de ser repetidas várias e várias vezes, provocando a ira e o escárnio de toda a equipe. Mesmo assim, quando Monroe conseguia acertar as suas falas, o resultado era mágico.