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No amaldiçoado ano de 2020, como o fictício repórter do Cazaquistão poderia nos chocar?
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Em 2006, o primeiro filme do Borat (personagem interpretado pelo comediante Sacha Baron Cohen) impressionava pelas declarações preconceituosas de americanos desavisados. Em um rodeio, por exemplo, um caipira fala em enforcar gays. Mais tarde, dois universitários admitem saudades da escravidão. Há longínquos quatorze anos, ouvir esse tipo de absurdo não era tão comum quanto é hoje. Os neo-nazistas eram mais discretos, o Facebook ainda não tinha destruído a democracia. Não tínhamos Donald Trump ou Jair Bolsonaro.

No amaldiçoado ano de 2020, durante uma pandemia que já provocou mais de um milhão de mortes no mundo afora, como Borat poderia nos chocar? Muitos dos elementos originais estão presentes em “Fita de Cinema Seguinte de Borat” ou “Borat 2”, para simplificar. O deboche com o Cazaquistão, as alfinetadas na direita religiosa dos Estados Unidos, a tentativa de escancarar o antissemitismo da sociedade americana, está tudo ali. Desta vez, no entanto, Borat conta com a participação de sua filha adolescente, Tutar (Maria Bakalova).

Em seu país natal, Tutar vivia trancafiada em um celeiro, como se fosse um animal – afinal, Borat deu uma “fraquejada” e acabou tendo uma filha. Já nos Estados Unidos, ela passa por uma transformação física para ser dada de presente ao vice-presidente Mike Pence e, assim, beneficiar a outrora gloriosa nação do Cazaquistão. Isto é tudo o que você precisa saber sobre o filme, sem estragar as várias reviravoltas que ocorrem em sua jornada (uma das grandes surpresas de “Borat 2” acabou virando notícia antes mesmo da estreia na Amazon Prime Video).

Boa parte do sucesso de Borat depende da capacidade de improvisação de Cohen, que reage conforme o que as pessoas reais fazem ou falam ao seu redor, mas o roteiro que dá estrutura ao segundo filme é também bastante forte e cativante. O ponto alto é, sem dúvida alguma, seu relacionamento com a filha, interpretada com genialidade por Bakalova, uma jovem atriz da Bulgária. Além de hilário, “Borat 2” é surpreendentemente doce, um filme perfeito para um momento tão horrível.

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