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A sequência de "O Iluminado" é mais eficaz do que 2mg de Frontal.
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Stephen King sempre detestou o que Stanley Kubrick fez com a adaptação de “O Iluminado”. Em 1997, produziu uma minissérie mais fiel ao próprio livro (que não foi bem recebida) e, em 2013, escreveu a continuação “Doutor Sono”, para reaver os personagens que criara na década de 1970. Agora, surge Mike Flanagan, diretor da série “A Maldição da Residência Hill”, tentando conciliar o conteúdo de King com o estilo de Kubrick – e falhando em criar uma obra coesa ou minimamente assustadora.

Em “Doutor Sono”, Flanagan recria algumas das cenas mais emblemáticas do clássico de 1980, como a de Danny Torrance pedalando pelos corredores vazios do Hotel Overlook. Todos os cenários são cópias perfeitas do original, ainda que pareçam um pouco menos amplas e perturbadoras. Assim que Danny se vira para ver a porta do quarto 237, uma moça no cinema comentou “não é ele”. Quando percebemos que os atores são parecidos, mas não são exatamente os mesmos, o filme provoca uma espécie de “uncanny valley” – que só piora quando uma outra atriz tenta imitar os trejeitos de Shelley Duvall ou quando o “Jack Nicholson” aparece.

King adorou a nova adaptação porque todos os elementos principais do seu trabalho estão lá: a discussão do alcoolismo, o clima amistoso entre os personagens principais e um universo caótico em que todos têm superpoderes e as regras não importam. “Doutor Sono” acompanha Danny já na vida adulta, interpretado por Ewan McGregor. Lutando contra o vício em bebida e as memórias de sua infância traumática, ele utiliza os próprios poderes para facilitar a morte dos idosos no asilo onde trabalha – daí o nome “Doutor Sono”, porque morrer seria como dormir. O filme em si é mais eficaz do que 2mg de Frontal.

Enquanto isso, Abra Stone (Kyleigh Curran), uma garota com um poder muito maior do que o de Danny, testemunha o assassinato de um menino por uma gangue de vampiros da Vila Madalena, isto é, seres que se alimentam do “vapor” de suas vítimas em troca de uma vida muito mais longa. A trupe é liderada por “Rose Cartola”, uma hipster centenária interpretada pela belíssima Rebecca Ferguson. Ao tomar consciência do poder da menina, que se comunica telepaticamente com Danny, Rose passa a persegui-la para devorar o seu “vapor” – é muita coisa, eu sei.

Ainda que Ferguson e Curran sejam boas atrizes, nunca sentimos o perigo da situação, porque tudo é muito fantasioso desde o início. Não há uma progressão do mundo real para o pitoresco. Quando, finalmente, “Doutor Sono” retorna ao Hotel Overlook, já vimos de tudo, não há mais tensão – e um final que deveria ser apoteótico termina como uma soneca desconfortável. Ao tentar agradar gregos e troianos, adeptos de King e fãs de Kubrick, Flanagan não faz muito mais do que um potpourri de “O Iluminado”.

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