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Não existe meritocracia na Academia.
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Os indicados ao Oscar 2020 foram anunciados nesta manhã e boa parte da crítica especializada está decepcionada com as escolhas da Academia. Tirando as boas surpresas (“Parasita” concorrendo não apenas como filme estrangeiro, mas como melhor filme; Joon-ho Bong indicado como diretor e Rian Johnson como roteirista), é difícil escolher qual é a injustiça maior: a ausência de mulheres na categoria de direção, ainda que “Adoráveis Mulheres” tenha sido indicado como melhor filme, ou a falta de atrizes e atores negros. 

Cynthia Erivo concorrerá por “Harriet”, mas obras relacionadas à escravidão já não representam a variedade da comunidade negra. Prestigiá-las é, talvez, uma tentativa hipócrita de melhorar a imagem de uma indústria racista. Em mais de 90 anos de história, apenas 34 atrizes negras foram indicadas ao Oscar, das quais 20 interpretaram escravas, empregadas ou pessoas em situação de pobreza extrema. Apesar de encarnar dois papéis completamente diferentes em “Nós”, Lupita Nyong’o foi esquecida. Hilários em “Meu Nome é Dolemite”, Eddie Murphy e Wesley Snipes também foram ignorados.

O problema, na verdade, não é bem a falta de representação negra, mas a brancura excessiva. A Academia fez questão de indicar Scarlett Johansson em duas categorias distintas, mas esnobou Jennifer Lopez (brilhante em “As Golpistas”), o elenco fenomenal de “Parasita” e de “A Despedida”, meu filme favorito do ano passado e com uma atuação perfeita de Awkwafina. O Oscar tem também um problema de gênero. Diretoras como Lulu Wang, Marielle Heller, Greta Gerwig, Lorene Scafaria e Olivia Wilde foram substituídas por Todd Phillips, uma imitação barata de Martin Scorsese.

Recentemente, a diretora de “Adoráveis Mulheres” publicou um artigo na Vanity Fair em que tratava da “hierarquia das histórias”. No topo da pirâmide, estariam histórias de violência masculina – homens contra homens, homens contra mulheres etc.. Para ganhar o respeito da Academia, é preciso tratar de guerra, crime e até de corrida de carros. Temáticas femininas, histórias que retratam amigas ou irmãs, são automaticamente relegadas ao gênero da sessão da tarde. Porque os homens que dominam a indústria não sabem se identificar com protagonistas diferentes deles mesmos – eles nunca tiveram nem de tentar.

Em anos passados, sempre que alguém afirmava que não havia mulher ou negro para indicar no lugar de algum homem branco, nem sempre as opções apareciam prontamente. Não é o caso de 2020.

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