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Na mira da simulação

Por que tantas produções recentes se inspiram em "O Show de Truman"?
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Em entrevistas, o ator James Marsden explica a série “Na Mira do Júri”, indicada em quatro categorias do Emmy, como uma mistura de “O Show de Truman” e “The Office” – de fato, ela é dos mesmos produtores de “The Office” e envolve um elenco diverso de personagens idiossincráticos, mas a semelhança mais forte é com “Truman”.

Disponível na Amazon Prime, “Na Mira do Júri” tem estilo de documentário e acompanha um julgamento (falso) em um tribunal (falso) com um júri (falso) – e, entre os jurados, há um homem desavisado que acredita que tudo o que acontece, por mais absurdo que pareça, é real. É como uma pegadinha do Ivo Holanda que dura por semanas, ininterruptamente.

Do ponto de vista da produção, a série parece complicadíssima. Não há um roteiro, apenas uma série de “situações” que vão se moldando conforme as atitudes do “enganado”, ou seja, todos os atores precisam saber improvisar e lidar com imprevistos (como uma atriz que, sem querer, deixa escapar o nome real da outra) para manter a ilusão constante.

James Marsden interpreta uma versão mais egocêntrica dele mesmo, um ator conhecido por filmes como “Sonic” e “Encantada”, que acaba selecionado para fazer parte de um júri popular e odeia cada minuto em que não é o centro das atenções. Há toda uma gama de personagens ótimos, vividos por atores desconhecidos, mas Marsden é um destaque evidente.

O último episódio é dedicado aos bastidores, às decisões tomadas pela equipe no meio do caminho e como o caráter do “cara real” foi modificando a história que a produção tinha em mente. É como ver um videogame do tipo “escolha a sua aventura” correndo para acomodar as opções do jogador em tempo real.

Na virada do século, filmes como “Matrix” ou “Corra Lola Corra” trataram de simulações e realidades paralelas, o que era pertinente em um período tomado pelo boom da informática e o temível “bug do milênio” que provocaria o colapso da sociedade. Mais de duas décadas depois, o tema da simulação volta à moda.

Além de “Na Mira do Júri”, outras produções recentes citaram “O Show do Truman” como inspiração ou foram comparadas com o filme estrelado por Jim Carey em 1998, como “O Ensaio”, de Nathan Fielder, o pavoroso “Não Se Preocupe, Querida”, de Olivia Wilde, e o fenômeno “Barbie”, de Greta Gerwig.

É verdade que “Na Mira do Júri” tem um tom muito menos sinistro do que “Não Se Preocupe, Querida”, um pastiche porco do clássico “As Esposas de Stepford”, mas ainda envolve um homem cercado por acontecimentos bizarros que tenta guiar um grupo de pessoas estranhas a uma decisão justa, mesmo que todo o sistema favoreça a injustiça.

“O Ensaio”, que também mistura a realidade e a ficção, trata de um homem neurótico que se cerca de roteiros e testes para antecipar situações que podem ou não acontecer de verdade. E “Barbie” tem a ver com a jornada da boneca rumo ao mundo real, sem mansão cor de rosa, mas com pé chato, celulite e machismo.

O que tudo isso tem a dizer sobre o período em que vivemos agora? Talvez, a sensação de remar contra a maré. Se o surgimento da internet foi visto, anos atrás, como uma esperança de um mundo mais unificado graças à democratização do conhecimento, agora lidamos com as barreiras criadas pela desinformação.

Talvez, a virada do século não deva ser lembrada por “O Show de Truman” ou “Matrix”, mas por “Oldboy”, filme coreano lançado em 2003 (e relançado nos cinemas brasileiros nesta semana, em comemoração ao seu aniversário de 20 anos), já que o nosso destino também parece decidido por um punhado de bilionários vingativos.

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