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Baseado em livro de Iain Reid, Charlie Kaufman assina o roteiro e a direção de nova produção da Netflix.
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Na virada do século, Charlie Kaufman era o bambambã dos roteiristas. Filmes como “Quero Ser John Malkovich” (1999), “Adaptação” (2002) e “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” (2004) impressionavam por combinar inovação e metalinguagem de uma forma acessível – isto é, você não precisava ser um cinéfilo chato para apreciar o estilo. Quando Kaufman se tornou diretor, porém, as coisas mudaram, sua obra ficou mais introspectiva e sisuda. Após o fracasso comercial de “Anomalisa” (2015), ele encarou um hiato de cinco anos e só retornou agora, com “Estou Pensando em Acabar com Tudo”.

Já disponível na Netflix, “Estou Pensando…” é uma adaptação do livro homônimo de Iain Reid, mas o roteiro e a direção são bem característicos do universo criativo de Kaufman, dos movimentos de dança de “Quero Ser John Malkovich” às mudanças do cabelo de Kate Winslet em “Brilho Eterno” – desta vez, contudo, não é a cor do cabelo que muda constantemente e que serve como um ponto de referência na história, mas o figurino da talentosa atriz irlandesa Jessie Buckley, que interpreta uma jovem mulher sem nome (pode ser Lucy, Lucia ou Louisa, depende do momento).

Lucy/Lucia/Louisa foi convidada pelo namorado Jake (Jesse Plemons) a conhecer os seus pais (Toni Collette e David Thewlis), que moram numa fazenda distante. Neva forte durante a viagem e ela quer retornar na mesma noite. Sabemos, de antemão, que ela está pensando em acabar com tudo. Com o namoro? A própria vida? Ambos? De toda forma, a viagem parece desnecessária e desconfortável. Durante os diálogos do casal, Kaufman se esforça para exibir a própria inteligência (Buckley chega a recitar um ensaio da crítica Pauline Kael), o que deixa “Estou Pensando…” bastante desgastante.

Com pouco mais de duas horas de duração, “Estou Pensando…” parece mais longo para o espectador. A visita em si na casa dos pais é como um filme de terror sobre Alzheimer, um pesadelo tortuoso de David Lynch. Há bons insights aqui e ali, sobretudo como o tempo transforma as nossas memórias e as nossas relações, mas há muitas piadas internas e piscadelas ao público – aparentemente, Kaufman odeia Robert Zemeckis? Apesar do jogo enigmático de citações e referências, tudo aponta para um artista frustrado, que se tornou mais cínico e amargo com o passar dos anos.

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