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Minissérie de Scott Frank traz Anya Taylor-Joy como prodígio do xadrez.
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Publicado em 1983, o romance de Walter Tevis, sobre a menina órfã que descobre um talento extraordinário para o xadrez, estava no limbo. Na década de 1990, o roteirista Allan Scott comprou os direitos da história, Bernardo Bertolucci demonstrou interesse em dirigir e Molly Ringwald parecia a escolha perfeita para o papel de Beth Harmon, mas a produção não seguiu adiante. Pouco antes de falecer, o ator Heath Ledger estava se preparando para assumir a cadeira de diretor – com Ellen Page como a menina-prodígio.

“Era um filme muito difícil de ser aprovado,” comentou o produtor William Horberg. Para o roteirista e diretor Scott Frank, no entanto, o projeto era o seu xodó há, mais ou menos, uma década: “Achei muito interessante a ideia dela ser tanto a protagonista como a antagonista de sua própria história.” Para tratar de todas as nuances da personagem, porém, Frank optou pelo formato da minissérie. Já disponível na Netflix, “The Queen’s Gambit” (ou “O Gambito da Rainha”) traz Anya Taylor-Joy encabeçando o elenco.

“Gambito” se refere a uma jogada de xadrez em que o jogador sacrifica uma peça, geralmente um peão, para ganhar algum tipo de vantagem em manobras seguintes, seja tempo, espaço ou desenvolvimento. Com consultores que incluem os mestres Bruce Pandolfini e Gary Kasparov, Frank se preocupou em coreografar partidas realistas e precisas, mas sempre de forma dramática, para que os espectadores que não entendem de xadrez também pudessem acompanhar a narrativa.

Com 7 episódios que se passam entre os anos de 1950 e 1960, a produção lembra a série “Mad Men” – não apenas pelo período histórico, mas por retratar pessoas de sucesso que são atormentadas pelo passado e sucumbem ao vício. No primeiro episódio de “The Queen’s Gambit”, a mãe de Beth morre e ela vai parar em um orfanato onde as crianças recebem tranquilizantes. No porão do lugar, o zelador lhe ensina as regras do xadrez e logo descobre que ela é um gênio.

Os anos passam e Beth é adotada por Alma Wheatley (Marielle Heller, diretora de “Poderia Me Perdoar?” e “Um Lindo Dia na Vizinhança”, mostrando que também é ótima atriz). Alma não é uma mãe perfeita, mas também não é uma megera abusiva. Trata-se de uma personagem complexa, com falhas e qualidades, como os demais na minissérie. Com ela, Beth começa a viajar pelo mundo, disputando torneio atrás de torneio, e aprendendo a aplacar o nervosismo com a bebida.

Apesar do sucesso, Beth tem flashbacks perturbadores de sua mãe biológica, uma mulher brilhante que insistia que a filha precisava aprender a se virar sozinha – em muitos aspectos, “The Queen’s Gambit” é uma versão adulta de “Enola Holmes”, duas produções em que meninas geniais navegam por universos predominantemente masculinos. E há homens no caminho de Beth, mas a sua inteligência tanto atrai como repele os seus interesses românticos.

Com o figurino mais caro da Netflix (depois de “The Crown”), “The Queen’s Gambit” também esbanja na fotografia de Steven Meizler e na trilha sonora de Carlos Rafael Rivera, além da edição afiada de Michelle Tesoro, que dá vida às partidas de xadrez. O ponto focal da série, contudo, é mesmo a habilidade da atriz Anya Taylor-Joy, que nunca descamba ao melodrama barato. Com tanto talento envolvido, na frente e atrás das câmeras, a nova minissérie da Netflix é uma das produções mais impressionantes de 2020.

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