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Não é a primeira ou a última vez que a comunidade LGBTQ abraça um filme de terror como se fosse seu.
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Em janeiro, um artigo no New York Times confirmou o que qualquer um com redes sociais já sabia: “M3GAN” é um filme gay – não por retratar um relacionamento homoafetivo, mas pelo teor “camp” da proposta exagerada e ridícula de uma androide que faz uma dancinha de TikTok antes de sair matando quem aparece no seu caminho.

Não é a primeira ou a última vez que a comunidade LGBTQ abraça um filme de terror como se fosse seu. Afinal, crescer com a sensação de ser diferente dos outros e com a constante ameaça de violência, seja psicológica ou física, nos torna mais íntimos de tudo que é compreendido pela sociedade como estranho ou bizarro.

No final do clássico “Frankenstein”, de Mary Shelley, vemos uma criatura que não pediu para ser criada daquele jeito, que não pode deixar de ser quem ela é, sendo perseguida por uma turba enfurecida de camponeses que não aceitam a sua existência. É uma imagem que toca qualquer um que já tenha vivido à margem do que é considerado “normal” pela maioria.

Muito antes da sexualidade ser discutida de forma aberta, autores góticos abusaram de alegorias gays que poderiam passar desapercebidas pelos incautos, mas que seriam reconhecidas pelos bons entendedores. Mesmo em tempos atuais, com a falta de representatividade na mídia, é fácil nos agarrarmos ao que não é explicitamente queer, como “M3GAN”.

Em 1909, o dicionário Oxford definia “camp” como “espalhafatoso, exagerado, afetado, teatral; afeminado ou homossexual”. Se, por um lado, os romances góticos nos relegam às sombras da sugestão, o “camp” é uma celebração transgressora que não sussurra, mas grita (ainda que metaforicamente): “eu sou gay!”

Entre os “normais”, tanto o terror como o “camp”, que tanto se intersectam, podem ter conotações negativas. Um é “trash”, grotesco ou absurdo. O outro é brega, cafona, de mau gosto. Aquilo que é subversivo, que desvia da norma, é sempre descartado pelos arautos da arte erudita ou pelas carolas do bom comportamento.

O crítico Roger Ebert dizia que o cinema era uma máquina de empatia. Para além dos exercícios estéticos, não há outra função mais primordial ao cinema do que criar conexão partindo do nada. A princípio, eu ia afirmar que todo terror é gay, porque trata do diferente, do excluído – mas o cinema, como um todo, tem um coração bastante boiolinha.

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