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O que fazer com estátuas de bandeirantes e filmes com estereótipos racistas?
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Nesta semana, a nova plataforma de streaming HBO Max (ainda não disponível no Brasil) anunciou que, diante da temática racista da obra e dos acontecimentos recentes, retiraria “E o Vento Levou…” de seu catálogo. Com Vivien Leigh e Clark Gable no elenco, a produção de 1939 se passa no sul dos Estados Unidos, logo após a Guerra Civil Americana, e tem personagens negros que se contentam em continuar servindo à aristocracia sulista, mesmo após o fim da escravidão. 

O filme foi um sucesso histórico de público e ganhou dez estatuetas do Oscar, inclusive o de melhor atriz coadjuvante para Hattie McDaniel, a primeira pessoa negra a ser contemplada pela Academia. Durante a premiação, a atriz não pôde sequer se sentar ao lado de Leigh e Gable, por culpa de uma segregação racial que duraria até meados da década de 1960. Para muitos, “E o Vento Levou…” foi como o “Green Book” de sua época, uma tentativa patética de reconciliação racial que serviu para aliviar a barra do branco.

Sim, “E o Vento Levou…” é racista, mas a história do cinema é racista. D.W. Griffith, considerado o “pai da linguagem cinematográfica”, retratou a Ku Klux Klan como um grupo heroico em “O Nascimento de uma Nação” (1915) – e, depois, se “desculpou” com “Intolerância” (1916). Há mérito técnico em sua obra, mas é impossível ignorar uma temática criminosa, seja ela “fruto do seu tempo” ou não. Então, o que fazer? Devemos parar de exibir os filmes de Griffith em cinematecas e faculdades de cinema?

Não é um debate novo. Ninguém sabe ao certo o que fazer com estátuas de bandeirantes, ruas com nomes vinculados à ditadura militar, livros e filmes com termos ou estereótipos racistas. Entre a destruição ou a manutenção destes símbolos, deve haver alguma resposta intermediária, uma forma de preservar a História, mas de apresentá-la de maneira mais crítica. Não se trata de “deixar o Borba Gato em paz”, mas de remover os bandeirantes de um lugar de prestígio, mantendo a memória do que eles fizeram e por que foram celebrados como heróis.

Não adianta varrer séculos de racismo, misoginia e homofobia para debaixo do tapete, como se nunca tivessem existido ou como se não existissem mais. O vento não vai levar o Borba Gato. Podemos dinamitar a estátua da Avenida Santo Amaro, mas toda a história de dominação violenta dos povos indígenas permanece conosco, em nosso dia a dia. Basta ouvir a fala do ministro da educação durante a reunião ministerial. Não é possível esquecer o passado quando ainda vivemos nele.

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