Um dos grandes trunfos da Marvel foi perceber, logo cedo, que não era possível copiar o estilo sombrio do Batman de Christopher Nolan. Apesar de suas origens trágicas, heróis são bobos – no melhor sentido da palavra – e é preciso algum senso de humor para transportá-los dos quadrinhos para os filmes. Sob o domínio de Zack Snyder, a DCEU se afundou com releituras “realistas” de alguns dos seus heróis mais amados, mas “Shazam!” surgiu para consolidar a mudança de tom da produtora.
Dirigido por David F. Sandberg, “Shazam!” é uma perfeita sessão da tarde, com homenagens ao clássico “Quero Ser Grande” e também ao verdadeiro público-alvo dos gibis: crianças. As cores berrantes do uniforme do herói (que, provavelmente, seria vinho escuro, caso fosse escolhido por Snyder) causam estranhamento com os tons frios da cidade da Filadélfia, mas evidenciam a fantasia por trás da história de um garoto (Asher Angel) que se torna um super-herói (Zachary Levi) e precisa lutar contra o seu primeiro vilão (Mark Strong).
Billy (Angel) é um garoto de 14 anos que, quando ainda era bem novo, se perdeu da mãe em um parque de diversões. Tratado como órfão desde então, ele tenta procurá-la utilizando todo tipo de artimanha, mas sem sucesso. Em um de seus inúmeros lares adotivos, ele conhece Freddy (Jack Dylan Grazer), um garoto obcecado por super-heróis – especialmente, Batman e Superman, é claro – e que será o seu guia/agente depois da sua transformação fantástica.
Apesar do “product placement” da DCEU, isto é, a breve propaganda de suas outras franquias, “Shazam!” se preocupa muito mais em contar a própria história do que em estabelecer caminhos para um universo compartilhado. Seguindo o molde de “Mulher Maravilha”, conhecemos a origem do seu poder, sua personalidade e seus conflitos internos muito antes de contemplar as possíveis sequências do filme. O resultado é uma base sólida para o futuro da produtora.
A metalinguagem de “Shazam!” pode remeter a “Deadpool”, mas a ironia pós-moderna do exaustivo anti-herói interpretado por Ryan Reynolds dá lugar ao entusiasmo inocente da performance cativante de Zachary Levi. Graças a criança interior de “Shazam!”, a DCEU rejuvenesce com cores mais vibrantes.