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Comandado por Bob Iger, conglomerado apresenta rachaduras.
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A Disney completa 100 anos, mas não há o que comemorar. Na semana passada, um artigo da Bloomberg questionou se o CEO Bob Iger perdeu a magia. Antes visto como um facilitador durante a greve dos roteiristas de 2007, o empresário cometeu uma gafe neste ano ao declarar que as demandas dos trabalhadores não eram realistas.

“Lá está ele, com suas roupas de marca, voltando do retiro dos bilionários em seu jatinho particular, nos dizendo que não somos realistas, sendo que ele ganha US$78 mil por dia,” esbravejou Fran Drescher, presidente do sindicato dos atores, à imprensa. Já Billy Porter, ganhador do Emmy pela série “Pose”, foi mais enfático: “Não tenho palavras além de ‘vai se foder’”.

No comando da companhia, Iger foi celebrado pelas aquisições da Pixar, Marvel, Lucasfilm e 20th Century Fox. Com a expansão, o estúdio fundado numa garagem por Walt Disney e seu irmão Roy passou a dominar as salas de exibição mundo afora e boa parte da cultura pop – para o desespero mais do que justificado de cineastas como Martin Scorsese.

Para o diretor de 80 anos, que lança o novo “Assassinos da Lua das Flores” nesta quinta-feira, as produções da Disney são calibradas, testadas e modificadas até que estejam prontas para o consumo – e a padronização da oferta cinematográfica ocorre em detrimento da diversidade. Filmes que não oferecem mais do mesmo são empurrados para fora dos cinemas.

O monopólio cultural da Disney, no entanto, já apresenta rachaduras. Além dos monumentais fracassos de bilheteria de “Indiana Jones”, “Quantumania” e da versão live-action de “A Pequena Sereia” (com orçamentos de mais de US$200 milhões cada), a Disney+ deu um prejuízo de mais de US$2 bilhões só em 2023. Até a frequência dos parques caiu.

Os maiores sucessos do ano (“Barbie”, “Super Mario” e “Oppenheimer”) não são da Disney e custaram muito menos de US$200 milhões. No quarto lugar do ranking está “Guardiões da Galáxia 3”, que marca a despedida de um dos raros diretores a manter alguma idiossincrasia sob o manto de conformidade da Marvel, que é como um rolo compressor de integridade artística.

Nos últimos anos, a Marvel tem como modus operandi a contratação de diretores independentes que se destacaram de alguma forma, mas que não têm cacife ou experiência suficiente para enfrentar a estrutura esmagadora da Disney. Juntando isto à exploração dos artistas de efeitos especiais, temos uma indústria precarizada com produtos genéricos e desalmados.

Com as ações do conglomerado em queda, Iger renova as energias no mar mediterrâneo, a bordo do Aquarius, seu iate com mais de 56 metros de comprimento – muito provavelmente, estirado sob o sol e enxugando o suor do rosto com um maço gordo de dólares. O castelo da Cinderela, tradicional logomarca da Disney, já não parece tão encantado.

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